A pergunta pelo SER HUMANO ecoa do Paraíso. Ela é a pergunta do Criador pela sua criatura. A resposta a ela define o caráter da “Missão Evangélica”. Ela irrompe num contexto. – “ADAM onde estás?” Onde você se meteu ADAM. Em outro contexto a pergunta é de Jesus: - “Onde o colocaste?” Diante desta indagação só uma resposta é adequada: - “Senhor, vem e vê!”

A atitude do Criador e do Salvador é a mesma. Ele veio ver o que é feito do SER HUMANO. Ele veio visitá-lo para restaurar a verdadeira imagem e semelhança de Deus. Aliás, o Verbo se fez carne, proclama João para revelar a plena imagem de Deus. O Verbo –Deus se fez gente por inteiro. Esta é a medida de humanidade que Deus requer de suas criaturas a cada geração. Esta pergunta emerge de um contexto. Por isso a resposta também vem de um contexto. Este contexto sempre envolve a criação num momento situado e datado. A resposta à pergunta de Deus mexe com a história do ser humano.

Neste blog manifesta-se uma constante busca de ouvir a pergunta do Criador pelo SER HUMANO e por tentativas de responder a esta pergunta dentro do contexto da cidade. Pois, afinal, somos urbanóides pós-hiper-modernos que habitamos aglomerados citadinos onde temos a vocação de “SERMOS HUMANOS”. Os referenciais definidores do ser e do humano variam de acordo com as filosofias e convicções pessoais. Esta pagina é reflexiva e dialogal. Sem pretensões conclusivas ou dogmáticas. Prefere-se a postura da agulha e da linha que tenta costurar, à função da tesoura que seleciona cortando tudo o que não cabe no molde.

Seja bem-vinda! Seja bem vindo! Seja comigo um construtor do “SER HUMANO”!


quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Advento

Há semanas que os meus pensamentos giram em torno da flor de lótus. Trata-se de uma planta aquática da mesma família da vitória régia.

Esta flor tem grande significado simbólico e religioso nos países da Ásia. Ela possui algumas qualidades que encantam e desafiam. Ela é uma flor linda e encantadora que se apresenta nas cores branca ou rosada. A aste donde emana a flor emerge de águas lodosas, pantanosas... A planta sobrevive à poluição urbana e brinda a todos com seu encanto. A sua beleza e pureza contrasta com seu ambiente.

Tenho refletido sobre esta pequena maravilha da natureza por causa da riqueza de significados nesta época pré-natalina.

A nossa vida urbana está cheia de adversidades. A cada dia estamos expostos aos aborrecimentos, contrariedades, poluição e, até, assaltos...

Assim como a flor de lótus, nossa vida está mergulhada em adversidades. Haveria inúmeros motivos para desanimar, entristecer-se, sucumbir, entregar os pontos, render-se ao senso comum... Onde buscar a força para sobreviver?

Miremos a flor de lótus: ela transpõe a poluição com sua pureza, brinda as adversidades com seu encanto. Das condições adversas faz emergir algo lindo e encantador. Qual será o seu segredo? Qual o milagre?

Esta flor só emerge num ambiente de muito sol, de muita luz!

Eis aqui a ponte entre a flor de lótus e Advento de Cristo.

Para irradiar novos sentimentos, relacionamentos e valores não podemos aguardar a erradicação de todas as adversidades. Isto seria esperar em vão. Contudo, é possível voltar à luz, deixar-se iluminar. Afinal, o Natal começou com uma luz – a Estrela de Belém. Ela motivou muitas pessoas a colocarem-se a caminho: os sábios do Oriente, os pastores do campo, os anjos dos céus... todos tomaram o caminho em busca desta luz.

Todos tinham em comum um desejo: deixar esta luz brilhar em suas vidas!

Jesus disse: Eu sou a luz do mundo quem me segue não andará nas trevas, ao contrário, terá a luz da vida. (João 8.12)

Desejo a vocês queridos/as que a luz de Cristo brilhe abundantemente em sua vida neste Natal! Que ela nos ponha a caminho de novos tempos de alegria, amabilidade e amor. Que tenhamos olhos capazes de perceber as pequenas maravilhas que nos dão alento a cada dia!

Feliz tempo de preparação para o Natal!

Um beijo no coração de todos.

Com afeto, Arzemiro

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

CONVERSÃO A CRISTO

O caminho para a nova vida em Cristo e suas implicações pessoais e comunitárias.

Você é casado ou solteiro? Ora, toda pessoa sabe a resposta sem pestanejar. Como alguém sabe se é casado ou solteiro? Elementar! Sou casado porque num dia muito especial assumi, publicamente, este compromisso diante de Deus e das pessoas. Quanto a isso não tenho dúvidas.

Agora, se alguém lhe pergunta: Você é convertido? Sim ou não? Como saber a resposta? Muito simples: uma pessoa convertida é alguém que, algum dia, assumiu pessoalmente, o compromisso de viver uma nova vida com Cristo. É a resposta pessoal à graça de Deus oferecida no Batismo que insere a pessoa na vida ativa da comunidade de fé.

O apóstolo Paulo disse: “agora não sou mais eu quem vive, mas Cristo vive em mim”. Com a sua conversão a Cristo aconteceu uma ruptura com o antigo modo de viver com seus costumes e valores. De perseguidor dos cristãos, Paulo passou a amá-los e a defender sua causa. Ela passou por uma experiência mística/espiritual marcante que produziu uma virada radical em sua vida. Esta experiência marcou uma ruptura com o passado e o início de um processo de transformação, de conversão.

O Novo Testamento usa várias palavras para significar esta experiência operada pelo Espírito Santo a partir do Evangelho. Tais como: “justificação por graça mediante a fé”, “novo nascimento”, “receber a Jesus”, “nascer do Espírito”, “amar”, “crer”, “nascer da justiça”, etc. A conversão sempre significa mudança: ruptura com o passado sem Cristo e a entrada para a comunidade cristã.

Batismo Infantil e conversão

Qual a relação entre batismo infantil e conversão? Em nossa Igreja, ao batizar uma criança, é praxe reunir os pais e padrinhos para uma palestra batismal. Sempre é enfatizado que a graça oferecida por Cristo no batismo espera uma resposta consciente e pessoal do batizado. Para ajudar os pais a “ensinar todas as coisas” a Igreja estabeleceu o período do Ensino Confirmatório. É um tempo em que os pré-adolescentes são preparados para dar seu “sim” às promessas do batismo, ou seja, a sua Confirmação.

Por que isto é necessário? Não basta ser batizado, o rito batismal não é mágico. É imprescindível viver o batismo no dia a dia. Disse Jesus: “Quem crer e for batizado será salvo. Quem não crer será condenado”, mesmo que for batizado! Assumir o batismo no dia-a-dia é viver em novidade de vida. Isto é conversão.

Lutero era batizado. Ele se preparava para ser sacerdote mas vivia em profunda angústia existencial. Esta só foi superada no dia em que entendeu o significado da “justificação por graça”. Ele confessa que naquele dia os céus se abriram sobre ele. Então passou a viver em paz com Deus. Esta descoberta do Deus misericordioso significou uma mudança em sua vida.

Eu lembro o dia da minha conversão como lembro o dia do casamento. Foi uma experiência maravilhosa e dou graças a Deus por ela. Outras pessoas não lembram este dia nem passaram por uma experiência mística marcante, mas vivem sua fé com alegria e bom caráter. Isto é o que importa.

Viver no Evangelho é mais significativo que colecionar experiências. A conversão é uma resposta ao Evangelho que leva ao discipulado de Jesus e remete a pessoa à comunidade de fé. Isto é graça imerecida e, ao mesmo tempo, responsabilidade intransferível. Paulo exorta a igreja filipense: “desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor. Mas saibam que Cristo opera isto em vocês".

Conversão e cidadania

O apóstolo Pedro enfatiza as implicações pessoais e comunitárias da conversão ao afirmar: “Despojando-vos, portanto, de toda maldade e dolo, de hipocrisias e invejas, e de toda sorte de maledicências, desejai ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que por ele vos seja dado crescimento para a salvação, se é que já a tendes a experiência de que o Senhor é bondoso” (1 Pe 2.1-3).

Quem abraça a vida cristã faz uma ruptura com o antigo padrão de vida para assumir um novo comportamento ético. A vida cristã é um processo de permanente transformação. Ninguém nasce pronto. Todas as pessoas precisam crescer para alcançar a maturidade. É necessário que haja zelo para que a vida em Cristo se imponha sobre os antigos valores. Sem uma sólida doutrina bíblica ninguém alcança esta vitória.

Diz-e que cada cristão precisa de duas conversões fundamentais: um para Cristo e outra de volta para seu contexto social.

Cada pessoa cristã é portadora de dupla cidadania: é cidadão do Reino de Deus comprometido com os valores do Evangelho; é cidadão brasileiro a serviço da transformação de sociedade em que vive.

O processo de conversão pode ter dia e hora para começar, porém, não tem hora para estar completado. Cada “nova criatura” está em constante processo de conversão. É a bondade de Deus que nos conduz neste processo em busca de vida digna e plena.

Arzemiro Hoffmann – missiólogo, professor na FATEV, Curitiba/PR, com licenciatura plena em Filosofia e Mestrado em Missão Urbana.

Este artigo foi publicado na revista Novo Olhar, ano 9, número 42, nov. e dez. 2011.


quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Por que é importante zelar pela boa imagem da Igreja?

Vocês são a luz do mundo. Não pode esconder uma cidade construída sobre um monte (Mt 5.14a).

Quem não se entristece quando a grande imprensa divulga notícias sobre ‘padres pedófilos’, negociatas de parlamentares ‘evangélicos’, escândalos financeiros de maus ‘líderes’ neopentecostais e outras atitudes perversas no cenário religioso nacional?

Estas atitudes ferem e maculam a imagem de toda a Igreja, mesmo que sejam ações localizadas. Poucos perguntam: qual foi a Igreja ou o grupo religioso envolvido? Quem está sendo denunciado? O senso comum coloca toda esta desgraça na conta da ‘igreja’.

Nós vivemos neste contexto de liberdade e confusão religiosa. Somos uma parte de toda a Igreja. Partilhamos as suas alegrias e sofremos com os seus pecados. O modo de ser e de viver espelha o caráter que temos. Jesus advertiu Não se pode esconder a cidade construída sobre o monte.

O mau testemunho, uma vez publicado, é como abrir um travesseiro de penas sobre um alto monte: o vento se encarrega de espalhar as penas e não há santo nem reza capaz de recolhê-las.

Assim, desde o início, quero sublinhar que a responsabilidade de zelar pela honra, pelos valores e pelo bom testemunho cristão é de toda a Igreja como organização e, simultaneamente, de cada pessoa, cada Comunidade, cada projeto, cada instituição e cada serviço.

Que imagem fazemos de nós mesmos?

Certo dia, visitei um querido Pastor de outra igreja histórica. Busquei-o ansioso para aprender algo novo sobre Missão Urbana.

No fim da conversa, ele declarou-se encantado com o nome de IECLB. Curioso, quis saber a razão deste encanto. Ele chamou a minha atenção para cada uma das palavras que compõem o nome da IECLB. Acompanhe a reflexão comigo:

- Somos Igreja: a nossa identidade está ancorada nas palavras e no ministério de Jesus e dos seus apóstolos. A Igreja é obra da ação do Espírito Santo. O seu vínculo é com Jesus, o Cristo e Senhor da Igreja. A sua base é o Evangelho do Reino de Deus.

As nossas lideranças, reunidas em Concílio Sinodal (1954), assumiram o nome IECLB com a seguinte missão: “ser Igreja de Jesus Cristo no Brasil com todas as consequências daí advindas para a proclamação do Evangelho neste País e para a corresponsabilidade pela formação da vida política, cultural e econômica do seu povo. Portanto, somos Igreja a serviço da transformação desta nação”.

Em contraste às religiões dualistas que apregoam a salvação das almas, sem transformação social, estamos comprometidos com o Evangelho que visa a uma salvação integral das pessoas e da sociedade. O Artigo 3º da nossa Constituição estabelece:

Em obediência ao mandamento do Senhor, a IECLB, através de suas Comunidades, tem por fim e missão:

I – propagar o Evangelho de Jesus Cristo;

II – estimular a vivência evangélica pessoal, familiar e comunitária;

III – promover a paz, a justiça e o amor na sociedade;

IV – participar do testemunho do Evangelho no País e no mundo.

- Somos Igreja Evangélica: o que nos identifica é o nosso compromisso com o Evangelho de Jesus Cristo testemunhado nas Sagradas Escrituras. Por esta razão, somos Igreja Evangélica.

As nossas Comunidades, ao longo dos anos, são identificadas como ‘Comunidades Evangélicas’. As nossas escolas, como ‘Escolas Evangélicas’, em contraste com as Comunidades e escolas católicas e luteranas da IELB.

O verdadeiro tesouro da Igreja é o santo Evangelho, não a instituição nem a estrutura, nem as liturgias, nem os templos... Assumir a identidade evangélica nos compromete com a salvação por graça mediante a fé. Esta fé só pode vivida em amor, a serviço do outro, em busca da liberdade, da justiça e da paz social. Portanto, o Evangelho não se reduz a uma piedade religiosa.

- Somos Igreja Evangélica de Confissão Luterana: Como Igreja, somos herdeiros da Reforma protestante do século XVI, liderada por Martim Lutero. Somos parte de uma família presente em muitos países. A Confissão Luterana esta comprometida com o brado dos Reformadores: Deixem Deus ser Deus! Contra os mercadores de fé, de salvação e de bênção, eles reafirmaram Existe um só mediador entre Deus e os homens: Jesus Cristo, este crucificado e ressurreto.

Esta é a nossa tradição. Ela não é uma gaiola que aprisiona os dons e as manifestações do Espírito Santo, mas nos vincula ao testemunho daquelas pessoas levantadas no poder do Espírito Santo para restaurar os verdadeiros fundamentos da Igreja de Cristo.

- Somos Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil: desde os anos 1970, a IECLB adotou o símbolo elaborado pela Federação Luterana Mundial (FLM), o globo terrestre sob a cruz de Cristo, tendo como moldura a coluna que marca a arquitetura da nossa capital federal, Brasília. Este símbolo é significativo (pelo seu caráter ecumênico que nos liga à una, santa e universal Igreja de Cristo) e desafiador (porque nos lembra que somos família evangélico luterana no Brasil).

Em síntese, para cumprir a missão de Deus confiada a nós, bastaria que cada evangélico luterano honrasse o nome da IECLB. Este nome nos confere identidade no pluralismo religioso brasileiro.

Como zelar pela boa imagem da Igreja?

Como país, somos, hoje, uma sociedade urbanizada e massificada. Nesta realidade, a pessoa pergunta-se: Quem sou eu nesta massa de gente? Onde encontro um ancoradouro que me confere valor e dignidade? Onde encontro um lar espiritual?

Quando as questões existenciais afloram no espírito humano, a pessoa busca respostas. Uma das portas a ser procurada neste momento é a ‘religião’. Afinal, todo progresso da ciência e todos os ataques ideológicos não conseguiram erradicar a necessidade de espiritualidade. Pelo contrário, geraram angústias que não conseguiram resolver. Ressurge, daí, o anseio pelo sobrenatural, a busca do místico, a necessidade de experiências que conferem sentido à existência...

O que o ‘urbanoide pós-moderno’ encontra quando visita os nossos cultos dominicais? Ele entra no templo como um desconhecido e sai como um estranho/ignorado ou existe alguém que nota a sua presença, vai ao seu encontro e o acolhe no seio da Comunidade?

Onde alguém sentir-se acolhido e amado, vai sentir-se em casa e, desta casa, fará a sua casa. O que Jesus espera dos seus seguidores é que as pessoas se sintam amadas por Deus por meio da Igreja. Cuidar da boa imagem da Igreja é acolher as pessoas no amor de Jesus.

A Igreja forma os cidadãos que a sociedade precisa

Na função de Pastor Regional, certo domingo, presidi a consagração de um templo. A Comunidade festiva estava reunida com as autoridades. Na ocasião, diversas pessoas fizeram uso da palavra diante do templo. Entre elas, chamou a minha atenção a palavra do Prefeito, um jovem Médico que afirmou com muita tranqüilidade: ´Enquanto eu for Prefeito neste município, faço questão de prestigiar o trabalho da Igreja, porque a Igreja forma os cidadãos que a nossa sociedade precisa!’.

Este Prefeito soube expressar em uma só sentença qual deve ser o foco da atuação missionária da Igreja na sociedade. Ele percebeu que o caráter do cristão é vital para a sociedade.

O zelo pela imagem da Igreja significa nunca esquecer que somos cidadãos do Reino de Deus e, simultaneamente, cidadãos em nosso país.

A qualidade dos nossos relacionamentos

Zelar pela boa imagem da nossa Igreja está intimamente vinculado à qualidade dos nossos relacionamentos. Assim como, na família não basta aos pais serem genitores, é preciso dedicação, presença, afeto, tempo e amor aos filhos. Este cuidado produz um clima de confiança. A confiança gera estabilidade emocional dos filhos. Esta os habilita a um crescimento equilibrado rumo à maturidade adulta.

Nós somos a família de Deus. Na Comunidade ocorre o mesmo processo. Não bastam boa pregação e bons programas. A imagem da Comunidade está relacionada à maneira como o amor é vivenciado. Vejam como eles se amam! Era a marca das comunidades primitivas.

Zelar pela nossa imagem tem a ver com o senso de estética

Na função de Pastor Sinodal, tive a incumbência de visitar Comunidades e avaliar os seus Ministros. Outro dia, em companhia de um colega, ao visitar uma Comunidade onde o templo estava mal cuidado, o meu colega fez uma observação irônica ‘Aqui, a gente tem a impressão que o patrão viajou em férias’.

As aparências podem enganar, mas nem sempre. Muitas vezes, revelam o coração da pessoa ou do grupo. Fico encantado quando visito as cidades serranas do Rio Grande do Sul: ruas limpas, praças floridas e jardins dos templos ajardinados.

Honramos o ser Igreja pelo trabalho para o bem da cidade

O profeta Jeremias exorta a Comunidade dos exilados para orarem pela paz e prosperidade da Babilônia Busquem a prosperidade (Shalom!) da cidade para a qual eu vos deportei e orem ao Senhor em favor dela, porque a prosperidade de vocês depende da prosperidade dela (Jr 29.7).

A presença cristã pode ser marcante na cidade. Ao estudar a história do planejamento urbano de Curitiba/PR, percebi que a presença de lideranças cristãs do quilate do Padre Lebret marcou a visão dos planejadores urbanos. Curitiba foi planejada em função das pessoas, seu bem-estar, sua qualidade de vida. Dezenas de parques bem arborizados e equipados, muitos quilômetros de ciclovias, transporte coletivo integrando, etc., testemunham este enfoque.

A participação no Instituto São Leopoldo 2024 está sendo a minha mais recente experiência de engajamento urbano. Somos um grupo de voluntários independentes que interage com os responsáveis diretos pela administração municipal, buscando a melhor qualidade de vida para a cidade. É uma maneira de demonstrar o amor pela cidade.

Conclusão

Cuidar da boa imagem de nossa Igreja é ser fiel o Evangelho e assumir as suas implicações para a sociedade. Isto é tarefa de todos.

Após servir na IECLB por quase quatro décadas, engajado nas ações de missão urbana e tendo conhecido mais de perto a realidade do mundo evangélico brasileiro, coloco-me de acordo com a conclusão do meu compadre Eurico: ’Quanto mais convivo e conheço o mundo evangélico brasileiro, mais alegria eu sinto em ser evangélico luterano’.

N.A - Este artigo Fo publicado no Jornal Evangélico Luterano, edição 10/2011, com exceção dos parágrafos grifados.

Arzemiro Hoffmann, Ex-Pastor Regional e Sinodal, Professor de Missiologia da Faculdade de Teologia Evangélica (Fatev), em Curitiba/PR, Licenciatura plena em Filosofia, Bacharelado e Mestrado em Teologia.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

O CRISTO, A CRIAÇÃO E ESTUDO DE TEOLOGIA

Diversas passagens da Escrituras vinculam a boa criação à missão de Deus confiada à Igreja. A seguinte passagem é um desafio muito grande. Para entendê-la são necessários anos de estudo e meditação.

“Ele é a imagem do Deus invisível, o primogênito de toda criação,
pois nele foram criadas todas as coisas nos céus e na terra,
as visíveis e as invisíveis, sejam tronos ou soberanias,
poderes ou autoridades;
todas as coisas foram criadas por ele e para ele.
Ele é antes de todas as coisas, e nele tudo subsiste.
Ele é a cabeça do corpo, que é a igreja;
é o princípio e o primogênito entre os mortos,
para que em tudo tenha a supremacia.
Pois foi do agrado de Deus que nele habitasse toda a plenitude,
e por meio dele reconciliasse todas as coisas,
tanto as que estão na terra quanto as que estão nos céus,
estabelecendo a paz pelo seu sangue derramado na cruz”. (Cl 1.15-20 NVI)

Quero destacar alguns aspectos em busca da compreensão desta passagens e relacioná-la ao estudo de teologia.

1. A boa criação tem o rosto de Cristo. Cuidar dela é preservar a
imagem de Deus. ( O que faz a religião idolátrica? Cria imagens mortas como símbolos cúlticos ao contrário do ensino bíblico). Deus quer ser honrado pela maneira como cuidamos de sua criação. Deus pode revelar-se, inclusive, pela sua criação.

2. O que faz parte da criação de Deus?
No senso comum, entende-se, que a criação de Deus limita-se ao reino animal, vegetal e mineral. (Se, pelo menos, pudéssemos cuidar disso já seria uma grande coisa). E, de fato, elas pertencem à boa criação de Deus.

Contudo, a criação de Deus não se limita a isso. Ela abrange
também as “coisas criadas nos céus”. Que coisas seriam estas? Elas têm tudo a ver com a vontade de Deus, Reino de Deus, assim como oramos no Pai Nosso.
Deus quer moldar a nossa espiritualidade com os valores do seu Reino e tudo o que é essencial para a plenitude da vida. Em Rm 12,2 somos exortados a que experimentemos a vontade de Deus como sendo “boa, perfeita e agradável”. Ela nos faz bem. Ela nos concede o essencial para vida. Ela nos dá amparo, sustento, alegria, amizade, paz, comunhão... Ela promove a reconciliação e a paz, ou seja, a restauração da harmonia perdida pelo pecado.

3. Ele criou as coisas “invisíveis, tronos e soberanias, poderes e autoridades”... estas coisas foram criadas para ele.

O que significa isso?

Ela é o Senhor de tudo (como afirma o Apocalipse: Ao único que
é digno de honra e de glória seja o louvor pelos séculos) ele é o soberano. Só o Senhor é Deus. À medida que todas estas realidades visam seu louvor, elas estarão servindo à harmonia e a paz da boa criação. Isto significa que também a organização social é uma responsabilidade espiritual. Por isso, nossa escola, tem um compromisso com a missão integral, a missão urbana, a missão transcultural. Nossa visão espiritual não se limita ao âmbito religioso. Pelo contrário, ela visa a restauração de toda a sociedade. A começar com a organização da república residencial, a família, a comunidade, os governos, o Estado...

4. Qual o papel da igreja? Ela tem a vocação de servir de primícias.
Ela é a comunidade que experimentou e conhece a obra de Cristo. Portanto, ela é o espaço onde Cristo promove a plenitude da vida, o sentido da vida, a reconciliação e a paz entre pessoas, povos e culturas. Deus quer expressar seu amor através da Igreja. Alguém que conviveu alguns dias nesta casa disse-me: “Aqui fui acolhido e me sinto como entre velhos amigos”.
Assim como foi do agrado de Deus que em Cristo habitasse toda a
plenitude (v.19)... assim é desejo de Cristo que no coração da igreja habite o amor de tal maneira que as pessoas sintam-se amadas por Jesus através de nós.
Desta maneira a missão sempre vincula a igreja com a criação de
Deus. Ela sempre tem uma responsabilidade pelo todo. Sua missão sempre é integral. Seja qual for o seu tamanho ou núcleo.

5. Qual o significado disso para nós aqui na Fatev?
O estudo de teologia é ma viagem a partir da vocação que Cristo
colocou em nosso coração em direção do conhecimento e a obediência a todo conselho de Deus. Ela é um serviço. Ele é culto que abrange:
- adoração – cultiva uma espiritualidade que corresponda a esta vocação;
- senso de família – envolve o crescer no cuidado mútuo, amor fraternal, pois aqui seremos família por alguns anos;
- desenvolve a vocação que Cristo colocou em nosso coração por meio de um estudo profundo e comprometido com a missão e o testemunho correspondente.
- desenvolve atitudes ecologicamente corretas no trata das coisas usuais do dia-a-dia;
- Nunca esquecer que toda nossa vida é um culto através do qual nós queremos honrar a Cristo.
Seja, cada pessoa, bem vinda para buscarmos junto conosco ser Igreja de Jesus.

(Meditação de abertura do ano letivo da Fatev)