A pergunta pelo SER HUMANO ecoa do Paraíso. Ela é a pergunta do Criador pela sua criatura. A resposta a ela define o caráter da “Missão Evangélica”. Ela irrompe num contexto. – “ADAM onde estás?” Onde você se meteu ADAM. Em outro contexto a pergunta é de Jesus: - “Onde o colocaste?” Diante desta indagação só uma resposta é adequada: - “Senhor, vem e vê!”

A atitude do Criador e do Salvador é a mesma. Ele veio ver o que é feito do SER HUMANO. Ele veio visitá-lo para restaurar a verdadeira imagem e semelhança de Deus. Aliás, o Verbo se fez carne, proclama João para revelar a plena imagem de Deus. O Verbo –Deus se fez gente por inteiro. Esta é a medida de humanidade que Deus requer de suas criaturas a cada geração. Esta pergunta emerge de um contexto. Por isso a resposta também vem de um contexto. Este contexto sempre envolve a criação num momento situado e datado. A resposta à pergunta de Deus mexe com a história do ser humano.

Neste blog manifesta-se uma constante busca de ouvir a pergunta do Criador pelo SER HUMANO e por tentativas de responder a esta pergunta dentro do contexto da cidade. Pois, afinal, somos urbanóides pós-hiper-modernos que habitamos aglomerados citadinos onde temos a vocação de “SERMOS HUMANOS”. Os referenciais definidores do ser e do humano variam de acordo com as filosofias e convicções pessoais. Esta pagina é reflexiva e dialogal. Sem pretensões conclusivas ou dogmáticas. Prefere-se a postura da agulha e da linha que tenta costurar, à função da tesoura que seleciona cortando tudo o que não cabe no molde.

Seja bem-vinda! Seja bem vindo! Seja comigo um construtor do “SER HUMANO”!


quarta-feira, 24 de março de 2010

A CIDADE NA MISSÃO DE DEUS

Resenha do livro: A CIDADE NA MISSÃO DE DEUS, Encontro Publicações/ Editora Sinodal/CLAI, Curitiba, 2008, 2.a reimpressão.

Em boa medida, a Igreja Evangélica Brasileira trata a cidade como os espanhóis e portugueses trataram as terras recém “descobertas”: uma ampla geografia que dispõe de matéria prima para locupletar os ambicionados projetos de conquista. Os invasores buscavam as riquezas naturais tão importantes para a matriz, enquanto os evangélicos buscam a massa humana sofrida e ávida por esperança.
Esta visão anti-evangélica serve para explicar porque o impacto ético dos evangélicos ainda é pouco notável em nossa Pátria.
O livro A CIDADE NA MISSÃO DE DEUS, procura restaurar os principais aspectos da visão de Deus sobre a cidade.
Seu ponto de partida é a palavra de Jesus sobre a cidade de Jerusalém: “Jerusalém, Jerusalém, você, que mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram”.(Lc 13.35 NVI)
Esta palavra do Senhor oferece a chave hermenêutica para compreender a missão de Deus para a cidade. Jesus vê a cidade na dimensão profética: ela é um centro de poder que promove a morte: “mata os profetas e apedrejas os enviados...”, por isso está sob a juízo de Deus, como demonstraram os profetas ao longo do AT. Por outro lado, ela é digna da misericórdia: “quantas vezes quis reunir teus filhos como a galinha...” Neste dupla dimensão a missão de Deus está voltada para a cidade como um todo. À medida que a visão missionária for do tamanho do coração de Deus haverá esperança de transformação holística, também, para a cidade.
A segunda abordagem do livro trata de analisar os construtores de cidade ao longo da Bíblia. Ressalta as pretensões belicistas dos construtores de cidade e sua culminância nos projetos monárquicos. Seu maior feito é simbolizado na Babilônia, expressão da cidade dominadora, escravagista e perversa.
Em contrapartida, a cidade Jerusalém, á apresentada na Bíblia, como capital espiritual do povo eleito. Ela é portadora da missão de promover a paz e a justiça para toda as nações. Esta vocação estava intimamente ligada à função do templo: “A minha casa será casa de oração para todos os povos” (Is 56.7).
Jesus reivindicou a restauração desta vocação. Contudo, a Jerusalém histórica sucumbiu à tentação babilônica e experimentou o juízo arrazador que culminou na sua destruição no ano 70, sob o comando do general romano Tito.
As grandes cidades, a partir do Pentecostes, tornam-se os corredores da missão de Deus. O caráter, a paixão e o testemunho das comunidades de Jesus trouxe uma nova proposta de vida que, em poucos séculos, minou as bases do Império Romano.
Outro enfoque do livro trata de propor à Igreja um Projeto Ministerial Urbano. Este é elaborado à base do livro de Neemias. Nas pegadas deste missionário leigo encontramos exemplo e fundamentos para um projeto ministerial que vislumbra uma missão integral para a cidade. Sua oração, compaixão, visão, rede de contatos, sensibilidade com os dons e habilidades, administração dos conflitos, celebração das conquistas, capacitação continuada da liderança desafiam e, podem até, revolucionar ministérios baseados na repetição cíclica de rotinas eclesiásticas ou de programas improvisados.
E, finalmente, o livro expõe o processo urbanizatório brasileiro da segunda metade do século XX. A exemplo do que ocorreu com a cidade de Curitiba pode-se fazer uma idéia do que representou o rápido, violento e desordenado processo urbanizatório brasileiro. Em 1950, a cidade contava com cerca de 200.000 habitantes. No ano de 2000, isto é, 50 anos depois, a população de Curitiba ultrapassou os 1.700.000 habitantes.
Diante deste fenômeno cabe a indagação: Até que ponto as igrejas evangélicas históricas tomaram consciência do que representou a violência deste processo migratório que continua até agora com características distintas? O que isto representa como desintegração humana, social, familiar e espiritual? A favelização, a criminalidade, o narcotráfico são as maiores expressões sociais da injustiça institucionalizada protaginizada pela elite nacional que vendeu este país com suas riquezas aos interesses do grande capital internacional. Urge a manifestação profética das comunidades evangélicas. Não é suficiente aguardar novos céus e novas terra num escapismo apocalíptico. Urge um testemunho transformador e corajoso dos filhos de Deus, como a manifestação de qualidade e de esperança em meio a natureza que geme e sofre.
A peregrinação missionária da Bíblia nos conduz do Paraíso para a Nova Jerusalém – a cidade, onde a vida perpassa todo tecido social. Esta nova cidade não é mero fruto do engenho humano mas é dádiva da misericordiosa graça de Jesus. Ela está no final da Bíblia não como utopia ou sonho. Ela está lá como espelho que reflete a esperança daquele que fará novas todas as coisas: Jesus. A missão cristã deve buscar os sinais éticos da realidade restaurada para dentro da cidade histórica concreta em todos os tempos e geografias.
À medida que nossa visão missionária for do tamanho do coração de Deus poderemos sonhar com novos céus e nova terra e, sobretudo, como novas cidades.